
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Há uma grande diferença entre uma crise sistêmica e uma crise comum, a começar pelo grau de envolvimento dos atores que nela participam e do esforço necessário para que ela seja revertida. Em uma crise sistêmica, a alteração de uma das peças do jogo não influencia o funcionamento do sistema, já que este atua de forma autônoma e se retroalimenta continuamente dos procedimentos já consolidados no tempo. Esse é um dos argumentos utilizados contrariamente a alteração não eletiva de um Presidente da República.
Uma crise econômica comum, por exemplo, pode ser corrigida por políticas macroeconômicas pontuais a curto e médio prazo. Uma crise econômica sistêmica (o que pode ocorrer com a China, por exemplo, em decorrência da alavancagem demasiadamente elevada) acarreta uma ruptura gigantesca e de difícil reconstituição.
Notadamente, o Brasil enfrenta uma das mais relevantes crises políticas já vivenciadas no país. Acontece que a crise política é apenas um sintoma de uma crise sistêmica de corrupção que tomou proporções inimagináveis e consolidou-se nas instituições e organizações. Retirar uma peça do jogo, não altera o funcionamento do sistema. Ao contrário, uma peça não funciona se não corresponder às expectativas do próprio sistema. É exatamente isso que deve ser combatido no longo prazo: a causa, e não o sintoma.
Enquanto isso, o país adoece em meio a manobras políticas, institucionais e jurídicas, para a manutenção de poder. Um exemplo disso, foi a extemporânea decisão do Deputado Waldir Maranhão, Presidente interino da Câmara de Deputados, que anulou, por ilegalidade, a sessão do Plenário da Câmara que decidiu pela admissibilidade do processo de Impeachment da Presidente da República.
Muito se fala que o Impeachment da Presidente efetivamente traria poucos resultados no combate às crises política e econômica atuais. A questão é que corresponde ao início de um processo de reversão de uma crise sistêmica que deve ser fortemente combatida com continuidade. Atos isolados e pontuais não influenciam no sistema como um todo. É preciso um esforço contínuo de mudança iniciado pela conscientização de que o problema realmente existe e é grave. A causa da nossa crise política é, sem dúvida, a corrupção massificada nas organizações e instituições. É exatamente a corrupção sistêmica, existente dos baixos aos altos escalões que deve ser diariamente combatida. Função principal das jovens lideranças, já que este é apenas um passo de uma corrida que levará, no mínimo, o tempo de uma geração inteira para se concretizar. Nossa parte, ao menos, nós faremos.